O Ministério do Mar quer duplicar até 2020 a percentagem de capturas de pesca em Portugal provenientes de aquacultura, triplicar até 2023 a produção de pescado com origem neste processo de produção e, finalmente, triplicar o investimento feito no âmbito do quadro comunitário anterior, passando dos 58 milhões registados durante o PROMAR 2007-2013, para os quase 150 milhões que o Governo espera ver investidos durante o atual Programa MAR 2020.
Estas são as metas definidas pelo organismo para impulsionar a aquacultura em Portugal e que resultarão da entrada em vigor de um conjunto de medidas a anunciar esta terça-feira, em Aveiro.
Ana Paula Vitorino, que tutela a pasta, diz que as expetativas são mais realistas do que ambiciosas. E, se em causa está duplicar ou triplicar indicadores, significa que se parte de uma base “que tem um enorme potencial de crescimento“, assegura.
O plano Aquacultura+, que será apresentado, esta terça-feira, numa cerimónia que conta também com a presença do Ministro do Ambiente, procura mostrar o empenho do Governo em contornar todos os problemas que estarão a impedir o aparecimento de mais empreendedores numa área “que pode ter um contributo muito positivo para o equilíbrio da balança comercial“. “Há uma grande margem de progressão da exportação para os países comunitários, onde existe uma grande procura. E também seria importante para diminuir as nossas próprias importações“, contabiliza a ministra.
Partindo de uma base em que existem apenas 1547 estabelecimentos produtivos, sendo que apenas 13 têm produção anual acima das 100 toneladas, e que são 2572 os postos de trabalho diretos (sendo que apenas cinco empresas têm mais de dez trabalhadores), Ana Paula Vitorino reconhece que existe um problema de dimensão.
Para isso, são necessárias intervenções em três áreas consideradas estruturantes: melhorar o licenciamento, assegurar possibilidades de financiamento e fornecer um guião, em termos de ordenamento do território, que indique aos potenciais interessados as áreas que já estão identificadas como adequadas para esta indústria.
Ao nível do licenciamento, e depois de ter aprovado em Conselho de Ministros a proposta de decreto de lei que vai ser enviada à Assembleia da República, Ana Paula Vitorino espera que no dia 1 de Janeiro de 2017 já possa estar em vigor a legislação “que encurta o atual calvário” a que estão sujeitos os empresários que querem iniciar-se nesta actividade: a figura do interlocutor único, e a disposição de prazos mínimos (32 dias úteis) e máximos (120 dias uteis) para a tomada de uma decisão.
“Atualmente podem passar-se três anos, serem precisos nove interlocutores e, mesmo assim, corre-se o risco de, a meio do processo, uma indicação de parecer positiva passar a negativa. Isto dava muita insegurança aos investidores“, diz a ministra.
Relativamente ao financiamento disponível, o Programa MAR 2020 vai disponibilizar uma verba de 78,7 milhões de euros para comparticipar projetos de aquacultura (mais do dobro do que o PROMAR), com verbas a fundo perdido que podem chegar aos 60%. “É expectável que o investimento global possa chegar aos 150 milhões. Recordo que no ciclo comunitário anterior, o investimento global ficou nos 58 milhões de euros“, contabiliza Ana Paula Vitorino.
Sobre o ordenamento do território, o Ministério do Mar e o Ministério do Ambiente já identificaram as áreas onde poderão ser apresentadas propostas de investimento. Estará disponível online um portal onde os empreendedores podem procurar a informação de que necessitam.
Em 2014, a aquacultura nacional pesou cerca de 5% nas capturas de pesca nacional, com uma produção de 10.791 toneladas, tendo gerado uma receita de 50,3 milhões de euros. Estes números surgem num país em que o consumo per capita é de 56,7 quilos, muito acima da média da União Europeia, que é de 21,3 quilos, o que traduz “aqui um leque de oportunidades elevadíssimo“, remata a ministra.